The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

20 anos de Ressabiator: Inquietação cívica

O Ressabiator, o meu blog, faz vinte anos no fim do mês. Não farei nenhuma festa.

Postarei alguns textos sobre o blog. Parece-me a melhor maneira de celebrar: posts celebram-se com post, a crítica festeja-se criticando.

Comecei a escrever online em 2004. No design escrevia-se pouco e só raramente em público. Havia uma sofreguidão de comunidade. Vinham pessoas de autocarro de Lisboa para verem as conferências Personal Views organizadas por Andrew Howard na Esad de Matosinhos. A Experimenta era também um gigantesco pretexto para encontrar pessoas e ver gente a falar e a pensar sobre design.

Comecei a escrever pela oportunidade de publicar sem gastar dinheiro. Sempre se exigiu que o design tivesse um papel na sociedade em geral. Porém, quando chega a ocasião mais simples e acessível de o fazer, poucos o fazem.

Perante meios gratuitos, imediatos, e de grande alcance, a escolha é quase sempre subir a barra. Escrever em público, sim, mas só se for num jornal. E se for num jornal, tem de ser uma coluna regular. E se for uma coluna regular, é porque não é um livro. E se não for um livro é porque não é um paper. E se não for um paper é porque não é numa journal indexado no scopus. E se não é open access? E se não financiado? E se não gera valor? E se não é relevante para a comunidade?

E assim por diante.

A melhor maneira de participar num debate público alargado é estar disponível para nele participar. Ter a paciência para ser insultado, mal-entendido, treslido. E voltar depois do almoço para mais.

Não vejo, nem nunca vi, a vida académica como um impeditivo de cumprir o papel de intelectual público. Uma das minhas referências, quando comecei foi Edward W. Said, que proferiu umas belíssimas conferências sobre o que é ser intelectual público.

As pessoas que mais respeito por essa bitola, são as que, para além do emprego, para além do doutoramento, para além do paper, intervêm, dão o passo de fazer mais do que o pedido. De servir a comunidade com generosidade, mas também com um tipo de generosidade menos reconhecido como tal que é a inquietação cívica.

Alguns exemplos, no design e não só, sem uma ordem em particular: as minhas colegas Maria José Goulão e Joana Baptista Costa, o Nelson Zagalo, o Frederico Duarte e a Vera Sachetti, o Guilherme Sousa, o André Barata, a Olinda Martins e a Isabel Duarte. Não é uma lista exaustiva.

Há mais pessoas que se levantam quando são chamadas. Ou, melhor, que se levantam quando já ninguém sequer chama – que é o caso frequente do design.

Filed under: Crítica

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