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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

A ética da ilustração

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A propósito do caso da ilustração, ocorreu-me uma forma mais simples de expor o mesmo argumento do texto anterior: imaginem que a Cristina Sampaio tinha feito um desenho que ilustrasse com rigor a opinião de Gentil Martins; imaginem que daqui a muitos anos esse desenho ia parar a uma antologia dos trabalhos da autora, o tipo de obra onde não aparece o texto original, apenas o título ou um resumo. Nestas circunstâncias, não seria apenas o conteúdo do desenho que poderia ser considerado homofóbico mas a opinião da própria ilustradora. Seria até possível alguém fazer uma antologia de design, arte e ilustração de carácter homofóbico e lá estaria a ilustração da Cristina Sampaio. Ela poderia defender-se dizendo que se limitou a cumprir com neutralidade os desejos do cliente mas se é possível reunir os trabalhos de um ilustrador (ou designer) e dizer que ele é um autor, isso pressupõe agência, que é como quem diz responsabilidade pelas suas decisões. Penso que as duas opções possíveis neste caso seriam a recusa de ilustrar um texto com o qual se discorda ou fazer o que Cristina Sampaio fez – com todos os riscos e mal entendidos que isso acarreta, pelo menos ninguém dirá que é homofóbica. Se como se disse pela net, mesmo um homofóbico não merecia ser tratado assim pelo jornal que lhe publica a opinião, tal não implica que um ilustrador deva ser obrigado a agir contra as suas convicções. As opções seriam as que dei acima. No caso da recusa de Sampaio, calculo que os editores ficariam na posição curiosa de ir testando ilustradores até encontrarem um que fosse homofóbico, que não-é-homofóbico-mas ou que pelo menos se estivesse nas tintas.

Filed under: Crítica

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